"No início do século XXI, a humanidade se defrontava com um dos seus maiores desafios: a sobrevivência. Com a explosão populacional, os já escassos recursos minerais estavam prestes a se exaurir. Juntamente com este fato, houve um aumento contínuo das ações terroristas, onde diversas facções procuravam mais poder através do domínio dos recursos naturais remanescentes.
Para tentar trazer ordem a este caos, os líderes dos países mais poderosos do mundo e os representantes dos grandes conglomerados econômicos se reuniram e, no dia 17 de abril de 2.035, criaram o Conselho Mundial. O principal objetivo era o restabelecimento da ordem mundial e a garantia da sobrevivência da espécie humana.
Entretanto, com a mesma rapidez com que o Conselho foi criado, várias facções se opuseram ao controle político e econômico que ele exercia. Esses grupos de oposição normalmente utilizavam táticas terroristas e paramilitares em suas ofensivas.
Com o crescimento das ações terroristas, no dia 29 de junho de 2.037, o Conselho Mundial criou o Grupo Especial de Combate ao Terrorismo, que utilizaria os armamentos mais sofisticados para controlar e combater os ataques terroristas.
No mês de outubro desse mesmo ano, sob o controle do Conselho Mundial, teve início o Programa Espacial Outlive. Seu objetivo era mapear os recursos naturais do Sistema Solar. O mapeamento seria a primeira etapa de uma gigantesca operação, visando a exploração de recursos minerais fora do planeta Terra.
Durante 7 anos as sondas espaciais vasculharam todos os planetas e satélites naturais do Sistema Solar. No dia 8 de novembro de 2.044, as últimas informações das sondas chegaram a terra. Após analisar todos os dados coletados, técnicos e cientistas do Conselho Mundial concluíram que Titã, satélite natural de Saturno, era o local mais rico em recursos minerais. No entanto, suas condições climáticas adversas, frio extremo e atmosfera composta de metano e amônia, impossibilitaram a utilização de tripulação humana na Missão Outlive.
Dentro do Conselho, existiam dois grupos com soluções para esse problema. O primeiro apoiava a utilização de robôs na missão. O segundo apoiava a utilização de uma tripulação formada por seres alterados geneticamente."
E assim começava a disputa entre os dois grupos com acusações e atentados mútuos.
Um enredo bem trabalhado para um jogo de estratégia, não? O mais interessante é que logo na instalação você pode perceber que toda essa longa história pode ser ouvida no mais puro português com uma voz parecida com a do Cid Moreira (um luxo por ser um produto cem por cento nacional).
E já que o jogo é todo em português, as unidades têm suas próprias falas que podem ser ouvidas quando lhe são dadas alguma ordem. Você pode escutar algumas bem humoradas como: "tudo eu, tudo eu"; "tá bom, hah!"; "Diga aê..."; "Fala chefe"; "Tem certeza". E ainda uma unidade (avião transportador) o qual o piloto parece estar embriagado, pois ele diz com uma voz de quem tomou todas: "Fecha a conta"; "Tô meio alto"; "Belêeza"; "Tá tudo giraaando".
Eu preferiria frases mais "secas" e adequadas a um jogo de guerra, como as encontradas nas séries Warcraft, Red Alert ou Commandos, mas isso é uma questão de gosto.
Como dito anteriormente, Outlive é um jogo de estratégia em tempo real onde você pode optar por jogar com qualquer uma das duas facções: os robôs e os humanos.
A teoria é a mesma dos jogos já conhecidos de estratégia em tempo real. Ou seja, você continua tendo que minerar os recursos oferecidos no mapa para obter créditos necessários para a produção de unidades e realização de obras. Só que além de minerar, você depende de energia elétrica. Sem ela, o desempenho de suas construções cai. E é aí que o ambiente interage com o cenário...
Os Geradores Eólicos (imensas hélices que quando movidas pelo ar produzem energia) e os Geradores Solares, por exemplo, quando construídos em lugares mais altos do mapa, produzem mais energia do que um construído em pontos baixos. O vento, dependendo da direção, pode espalhar o fogo numa floresta, e o fogo quando em contato com suas unidades, pode queimá-las. Já as unidades danificam menos o inimigo se elas estiverem localizadas num terreno mais baixo do alvo. E ainda há criaturas denominadas "Abomináveis" (seres modificados geneticamente) que podem se tornar hostis de uma hora pra outra.
Por falar em cenário, este é bem favorecido pelo ponto forte de Outlive: o "engine" gráfico. Podendo rodar numa resolução que varia de 640 x 480 até 1024 x 768, nota-se a preocupação e o potencial dos programadores da Continuum Entertainment com o visual. Muito bem detalhadas, as construções podem ser observadas em todas as etapas da obra. No princípio vê-se só a base da construção, e à medida que esta vai sendo completada, percebe-se uma armação de aço, e posteriormente o acabamento sendo feito até estar pronta.
E para compor o belo processo de construção, as unidades e construções são muito bem animadas e cheias de detalhes. Os robôs de construção têm um braço mecânico semelhante a uma pinça, que metodicamente coleta o material num canto próximo à unidade e o coloca na obra. Tudo isso com um movimento bem convincente.
As fábricas de veículos e de aeronaves, por exemplo, quando estão fazendo alguma unidade, expelem uma fumaça de suas chaminés. As usinas nucleares também produzem um efeito (uma luz verde cintilante) de suas grandes chaminés, e quando destruídas expelem radiação que afetam as unidades.
Embora o visual não chegue ao nível de um Red Alert 2 ou Commandos 2, é impressionante constatar como os brasileiros da Continuum conseguiram produzir cenários sofisticados e unidades bem detalhadas.
As novidades ficam por conta do Laboratório de Pesquisas, do Centro Tecnológico, da Central de Inteligência e do Centro de Informações. O Laboratório de Pesquisas e o Centro Tecnológico são responsáveis, como o próprio nome diz, pelas pesquisas tecnológicas. Essas pesquisas são essenciais para o seu desenvolvimento durante o jogo, pois podem melhorar o poder de fogo de suas unidades assim como a resistência delas e também permitem que você faça tanques, aviões e construções mais sofisticadas. Já o Centro de Inteligência e o Centro de Informações são responsáveis pela espionagem do jogo, muito importante por sinal. Com ela você pode abrir seu campo de visão no mapa, sabotar construções inimigas paralisando as obras, roubar tecnologias, monitorar tropas e construções inimigas, roubar informações (crédito, quantidade de construções, número de unidades terrestres e aéreas), etc. Essas implementações são um fator bastante positivo de Outlive, pois não me lembro de nenhum jogo de estratégia em tempo real que explorasse tanto o fator espionagem e desenvolvimento tecnológico.
A estratégia também foi muito favorecida com a possibilidade de pausar o jogo e ainda sim poder comandar as unidades (opção muito boa para aqueles jogadores mais lentos que não conseguem administrar tudo o que acontece no mapa).
Outra excelente opção que favoreceu o fator estratégia foram as macros (teclas de atalho). Além daquelas conhecidas de jogos como a série Command & Conquer e Starcraft (marcar grupos de unidades, realizar patrulhas, etc), destaca-se a possibilidade de dar várias ordens para uma mesma unidade segurando apenas uma tecla. Ou seja, se você desejar que seu robô construtor faça uma torre de defesa, uma fábrica de veículos e depois uma usina nuclear, basta você seleciona-lo, segurar a tecla "shift", e ordenar para que faça todas as construções citadas acima. Ele cumprirá as ordens recebidas sem hesitar.
Em Outlive você ainda tem a possibilidade de ordenar pontos de fuga para quando as suas unidades sofrerem um certo dano. O percentual de dano ideal para elas fugirem para o ponto estratégico (o ponto estratégico pode ser uma base reparadora) é configurado por você. Isto possibilita que você não perca as unidades construídas e esquecidas no mapa perante o fogo inimigo, já que elas fugirão assim que alcançarem certo dano. Interessante, não?
O ponto negativo de Outlive no quesito jogabilidade é o baixo número de unidades e construções disponíveis (um pouco mais de 20 para cada facção), que limita a estratégia e desfavorece a durabilidade. Este fator pode frustrar alguns jogadores, que irão se cansar rapidamente da falta de opções. De resto, Outlive pode ser considerado muito bem balanceado e divertido.
?? claro que a diversão da maioria dos jogos de estratégia em tempo real fica por conta do modo multijogador, e este não decepcionou...Você pode jogar Outlive por modem, por rede local (IPX), por cabo serial, e ainda, para a minha surpresa, o pessoal da Outlive criou o sistema CGS (Continuum Game Server). Trata-se de um serviço gratuito para aqueles que desejarem entrar no campo de batalha com até dezesseis jogadores simultaneamente via Internet.
Com possibilidades de configurar os confrontos on-line com condições de vitória diferentes (cada um por si sem possibilidade de formar alianças, capturar a bandeira, destruir todas as unidades e construções inimigas, e destruir todas as construções) e podendo também jogar um mapa ou campanha feita através do editor de campanha, a durabilidade de Outlive é ampliada.
Seja disponibilizando algumas tecnologias para o desenvolvimento durante o confronto, ou criando unidades especiais, o editor de campanhas também revela-se uma ferramenta fenomenal para a criação do cenário ideal na visão do jogador.
Outlive é um bom jogo de estratégia com idéias de clássicos como Starcraft e a série Command & Conquer, além de ter conteúdo exclusivo. Por questões de infra-estrutura, know how e grana, não pode ser comparado às mais recentes versões de gigantes da estratégia como Red Alert 2, Commandos 2 e Warcraft 3. Mas neste review levou-se bastante em consideração a extrema capacidade, dedicação e iniciativa desses bravos brasileiros, já que não tiveram as mesmas condições de trabalho de uma Westwood, Eidos ou Blizzard.
Provou-se aqui mais uma vez que o talento de algumas pessoas pode superar os milhões de dólares e o marketing agressivo de algumas das mais conhecidas distribuidoras mundiais.
Há muito ainda para ser melhorado em Outlive, mas com certeza esse título significa muito para o Brasil. Embora não esteja no mesmo nível de excelência das últimas produções de gigantes da indústria, um jogo brasileiro deste calibre tem uma espécie de aura que o torna muito especial e altamente recomendado. Parabéns Continuum!
Prós:
+ Um produto 100% Nacional;
+ Equipe de desenvolvimento tem colhões de aço;
+ Bons gráficos;
+ Sistema CGS via Internet;
+ Muitas novidades para o gênero estratégia;
+ Outlive estimulará o mercado de jogos brasileiro.
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